Gel liberador de óxido nítrico é aprovado nos Estados Unidos para o tratamento de molluscum contagiosum em pacientes adultos e pediátricos

abril, 2024 Artigo

Redação: Dra. Elizabeth S. Fernandes1,2,3; Tec. Maickel B. Delwing3; Dra. Morgana Duarte da Silva3,4
Edição: Dra. Nara L. M. Quintão3,5; Dr. João B. Calixto,3,6
1Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, 2Faculdades Pequeno Príncipe, 3INCT-INOVAMED, 4Universidade Federal de Santa Catarina, 5Universidade do Vale do Itajaí, 6Centro de Inovações e Ensaios Pré-clínicos-CIEnP

Molluscum contagiosum é uma doença de pele crônica causada por um poxvirus. É considerada a terceira doença viral de pele mais comum em crianças e uma das cinco mais prevalentes no mundo (5.1-11.5% da população mundial). A doença afeta, além de crianças, indivíduos imunocomprometidos e adultos sexualmente ativos, sendo mais frequente entre 1 e 14 anos de idade. O vírus é transmitido por contato direto com pessoas e objetos infectados como toalhas, esponjas de banho e água de banho. Tipicamente, a doença é caracterizada por pápulas localizadas de 2-5 mm de diâmetro, arredondadas, rosadas ou da cor da pele e com superfície lisa. As lesões são geralmente assintomáticas, porém, alguns pacientes podem apresentar coceira. Ainda, a doença pode se tornar mais severa e disseminada em indivíduos imunocomprometidos, nos quais as lesões podem ser maiores (10-15 mm) e ocorrer em maior quantidade.

É preciso tratar molluscum contagiosum? Apesar de normalmente serem benignas, as lesões podem se tornar inflamadas. Além disso, é importante lembrar que esta é uma doença crônica, na qual as lesões podem persistir por vários meses, e portanto, indivíduos infectados e não tratados podem trasmitir ativamente a doença durante este período. Ainda, quando acompanhadas de coceira, as lesões comprometem de forma considerável a qualidade de vida dos infectados.

Quais os tratamentos disponíveis para a doença? Apesar de não específicas para a doença, diferentes terapias, combinadas ou não, podem ser utilizadas para molluscum contagiosum, incluindo: i) remoção física das lesões por meio de curetagem, criocirurgia, laserterapia ou eletrocauterização; ii) aplicação de irritantes tópicos como ácido tricloroacético, cantaridina, tretinoína, tazaroteno, ácido lático, ácido glicólico, ácido salicílico, podofilotoxina, dentre outros; iii) agentes imunomoduladores como interferon α; iv) antivirais (cidofovir); e v) terapia fotodinâmica.
Somente este ano foi aprovado pela Food and Drug Administration (agência regulatória americana) um fármaco de primeira escolha para molluscum contagiosum, o Zelsuvmi. O medicamento comercializado pela Ligand Pharmaceuticals tem como princípio ativo berdazimer, um gel liberador de óxido nítrico (10,3%) para uso tópico em adultos e pacientes pediátricos maiores de 1 ano de idade. O óxido nítrico é um transmissor gasoso que dentre outras propriedades, atua como antimicrobiano. Entretanto, o mecanismo exato pelo qual o berdazimer afeta a infecção pelo poxvírus causador do molluscum contagiosum é, até o momento, indeterminado.

A terapia com berdazimer apresenta riscos? Os efeitos adversos mais comuns observados após o uso do berdazimer ocorrem no local da aplicação do medicamento, incluindo dor em queimação ou agulhamento, vermelhidão, coceira, esfoliação, dermatite, edema, erosão, descoloração, formação de vesículas, irritação e infecção da pele.

Apesar dos efeitos adversos mencionados acima, os dados obtidos nos estudos clínicos sugerem que o berdazimer apresenta boa segurança clínica em pacientes pediátricos e adultos com molluscum contagiosum. Ressalta-se que esta terapia ainda não foi aprovada para uso no Brasil e somente chegará no mercado terapêutico americano na segunda metade de 2024.

Referências
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