COVID-19 Longa: Uma Nova Realidade Entender a COVID-19 longa pode ser uma oportunidade para compreender como outras infecções agudas causam doenças crônicas

março, 2024 Artigo

Redação: Dra. Eunice André,1,2

Edição: Dr João Batista Calixo2,3

1Universidade Federal do Paraná, 2INCT-INOVAMED, 3Centro de Inovações e Ensaios Pré-clínicos-CIEnP

No artigo dos pesquisadores Ziyad Al-Aly e Eric Topol, do Instituto de Saúde Pública da Universidade de Washington em Saint Louis, MO, EUA, e do Scripps Research em La Jolla, CA, EUA, respectivamente, publicado na revista Science de 2024, eles destacam a necessidade de se enfrentar a nova e desafiadora realidade: a chamada COVID-19 Longa. Eles destacam que desde o início da pandemia de COVID-19, muitas pessoas em todo o mundo estão sofrendo da COVID-19 Longa. Essa é uma doença complexa que apresenta ampla variedade de sintomas, afetando diferentes partes do corpo. Alguns pacientes sofrem de extrema fadiga e confusão mental, enquanto outros experimentam problemas cardíacos ou metabólicos. Mesmo aqueles que tiveram sintomas leves no início podem desenvolver a COVID-19 Longa. Devido aos avanços da pesquisa, hoje compreendemos um pouco mais sobre a epidemiologia e as manifestações clínicas da COVID-19, assim como também observamos um progresso nas bases biológicas da doença. No entanto, os esforços de prevenção parecem estar estagnados e existe incerteza sobre o compromisso de longo prazo dos governos em abordar as necessidades de pesquisa nessa área. Pior, ainda não temos um tratamento efetivo e validado por ensaios clínicos para o tratamento da COVID-19 Longa. O que sabemos é que a COVID-19 Longa não faz distinção entre idade, raça ou saúde geral. Em pessoas afetadas pela COVID Longa, parece haver múltiplas vias patogênicas, incluindo a persistência do vírus ou dos seus componentes em alguns tecidos; resposta imune desregulada e descontrolada; disfunção mitocondrial; inflamação vascular (endotelial) e/ou neuronal e alteração no microbioma (disbiose). Os cientistas alertam que a reinfecção pelo vírus não é insignificante, podendo resultar em uma forma mais grave da COVID-19 Longa ou ainda agravá-la, com o risco aumentando a cada nova ocorrência. De acordo com alguns pesquisadores, em pacientes com COVID-19 grave, pode surgir uma infecção aguda sistêmica na qual o SARS-CoV-2 se replica em tecido pulmonar e extrapulmonar, e seu RNA genômico pode persistir por meses em vários locais, incluindo o cérebro e as artérias coronárias. Outros trabalhos também relatam que o SARS-CoV-2 pode reativar vírus latentes, incluindo o vírus Epstein-Barr e o vírus da varicela-zoster, além de levar a disfunção intestino-cérebro, no sistema neuroendócrino, disfunção mitocondrial e coagulação prejudicada. Cada nova infecção aumentaria esse risco. Os estudos conduzidos por um período de 2 a 3 anos de acompanhamento sugerem que a COVID-19 Longa pode causar efeitos persistentes por muitos anos, com recuperação completa sendo rara. As experiências passadas com outras pandemias nos ensinaram que sequelas graves podem surgir mesmo décadas após a infecção inicial. Então fica claro a importância de estudos mais extensos para entender melhor os impactos a longo prazo da COVID-19 de Longa e identificar possíveis efeitos que ainda não se manifestaram. Além disso, como a COVID-19 Longa é uma doença complexa e variada, é improvável que um único ou alguns poucos biomarcadores expliquem sua vasta complexidade. Assim, uma abordagem inovadora para o desenvolvimento de biomarcadores, aproveitando o poder da inteligência artificial para analisar um grande número de variáveis e identificar potenciais biomarcadores que possam classificar subtipos distintos de COVID-19 Longa e prever prognósticos e respostas ao tratamento ainda é necessário. No entanto, esse cenário fica ainda mais desafiador quando vemos, juntamente com os movimentos antivacina e anticiência, um novo movimento: o negacionismo da COVID-19 Longa. Este movimento lança dúvidas sobre a extensão e a urgência da COVID-19 Longa, confunde a COVID-19 Longa com eventos adversos de vacinas e, mais ainda, busca dificultar o progresso no atendimento de pessoas que sofrem desta condição. Até o momento, as vacinas têm se mostrado eficazes e estudos demonstram que elas reduzem de fato o risco de COVID-19 Longa entre 15 a 75%, com uma média de ~40% de redução no risco. No entanto, o interesse da população por doses adicionais de vacinas tem diminuído devido ao cansaço e esgotamento mental causado pela mudança na vida diária devido a pandemia. Alguns medicamentos antivirais, como ritonavir/nirmatrelvir quando usados dentro de 5 dias após o início dos sintomas da infecção por SARS-CoV-2 podem reduzir o risco de COVID-19 Longa em 26%. O molnupiravir, também têm se mostrado eficaz e parece ser promissor, mas há preocupações com efeitos colaterais, como mutagenicidade. Outro antiviral, o ensitrelvir, também é uma opção em estudo. A metformina, medicamento usado para tratar a diabetes tipo 2, pode reduzir o risco da COVID Longa em 41%; entretanto, são necessários mais estudos para melhor compreender sua eficácia e segurança. Portanto, há ainda um longo caminho a ser percorrido na busca por tratamentos definitivos para tratar a COVID-19 Longa. Cuidar de pacientes com esses sintomas apresenta desafios, pois muitas vezes são subestimados e tratados como psicossomáticos. Novos tratamentos, como vacinas mais duradouras e antivirais, são urgentemente necessários. A aceitação das vacinas desempenha um papel crucial, e estratégias como combinar campanhas de doses de reforço com a vacina contra a gripe podem ser benéficas. Em conclusão, os autores sugerem que mais pesquisas são necessárias para entender como a COVID-19 Longa afeta as pessoas e como outras infecções agudas podem levar a doenças crônicas.

Referência:

Al-Aly Z, Topol E. Solving the puzzle of Long COVID. Science. 2024 Feb 23;383(6685):830-832. doi: 10.1126/science.adl0867.