Parceria entre o CIEnP e empresa Naturesphix/Olera permitiu o lançamento no mercado brasileiro de um cosmético inovador.

maio, 2023 Notícia

Por João Batista Calixto, PhD. Diretor do Coordenador do INCT-INOVAMED | Diretor do Centro de Inovação em Ensaios Pré-clínicos (CIEnP) | Professor Titular (Aposentado) do Departamento de Farmacologia da UFSC

Em 2018, o Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP), com o apoio do projeto INCT-INOVAMED, financiado pelo CNPq e FAPESC, deu início a estudos pré-clínicos realizados in vitro utilizando células humanas. O objetivo era desenvolver um produto cosmético inovador a partir do extrato padronizado obtido das sementes do açaí (Euterpre oleracea), coletadas na Amazônia. Esse extrato foi produzido a partir do subproduto da extração da polpa do açaí, amplamente comercializado no mercado brasileiro e exportado como alimento para vários países. A exploração dos frutos do açaí é de grande importância para a economia da Amazônia, especialmente para cadeia produtiva do estado do Pará. O extrato padronizado e liofilizado foi denominado TI-35.

Utilizando espectrometria de massa acoplada a UPLC, foram identificados e quantificados 14 compostos fenólicos no extrato, incluindo: Ácido Isovanílico, Procianidina B1, Ácido O-cumárico, Epicatequina, Procianidina B2, Ácido Isoferúlico, Ácido Vanílico, Catequina, Ácido P-Cumárico, Ácido Ferúlico, Rutina, Quercetina, Naringenina e Hispidulina. Foram realizados estudos de estabilidade de longa duração (6 meses), mensurando mensalmente todos os constituintes presentes no TI-35, mantido em temperatura ambiente ou a -20 °C. O extrato liofilizado produzido a partir das sementes do açaí mostrou-se altamente estável ao longo de todo o período avaliado.

Os estudos de eficácia foram conduzidos em culturas de células humanas, incluindo fibroblastos, queratinócitos e melanócitos. Eles demonstraram que o TI-35 apresenta excelente eficácia, especialmente como antioxidante, inibindo a formação de espécies reativas de oxigênio, conhecidas como radicais livres. Experimentos foram realizados em células estimuladas por luz ultravioleta (UVB) e em células não estimuladas. Em ambas as situações, o TI-35 foi mais ativo do que a Vitamina C, comumente utilizada em vários produtos cosméticos.

Quando testado em cultura de fibroblastos humanos, o TI-35 reduziu em cerca de 30%, a atividade da metaloproteinase-9 – uma enzima que degrada o colágeno; enquanto que a Vitamina C, utilizada como referência, apresentou apenas 9% de atividade. Além disso, nos fibroblastos humanos expostos à radiação UVB, o TI-35 inibiu a formação de espécies reativas de oxigênio em 22%, em comparação com o efeito de 17% da Vitamina C. Quando avaliado em cultura de melanócitos humanos, o TI-35 não interferiu na enzima tirosinase nem na produção de melanina.

Os estudos de segurança foram realizados in vitro, seguindo as recomendações dos guias internacionais da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). No teste de irritação da pele (OCDE 439), realizado com pele artificial Episkin (L’Oréal), o TI-35, nas concentrações que inibiram a produção de espécies reativas de oxigênio, demonstrou ser seguro. Além disso, nos estudos de mutagenicidade (OCDE 471) – teste de Ames, o TI-35 não apresentou efeito mutagênico.

Em 2021, o CIEnP depositou uma patente no formato de PCT (Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes) no United States Patent and Trademark Office, sob o número 506714409. Os direitos de exploração desta patente foram transferidos para a empresa Naturesphix, por meio de uma negociação intermediada pela PANAREA PARTNERS, com sede em Nova York. O CIEnP está recebendo pagamento pelo desenvolvimento do produto e receberá royalties correspondentes a 3,5% das vendas mundiais líquidas do produto cosmético.

A Naturesphix e a Olera, empresas do mesmo grupo (www.olera.io), estabeleceram uma parceria com a empresa Centroflora para o escalonamento do produto TI-35. Em seguida, contrataram especialistas em desenvolvimento e formulação de produtos cosméticos. Os estudos clínicos realizados pela Olera revelaram que, após 28 dias de uso, 87% dos usuários relataram:

•          Drástica diminuição de linhas finas;

•          Melhora significativa na firmeza da pele; e

•          Aumento da elasticidade da pele.

Em Junho próximo, a Olera irá lançar inicialmente no Brasil, seus primeiros produtos cosméticos (Skincare Serum – ver figuras abaixo). Para obter mais informações sobre o produto, visite: www.olera.io e www.olera.com.br

Assim, surgiu a parceria que resultou no desenvolvimento de um novo produto cosmético inovador baseado na biodiversidade brasileira e orientado pela Ciência.