Redação: Dra. Elizabeth S. Fernandes1,2,3; Tec. Maickel B. Delwing3
Edição: Dr. João B. Calixto,3,4
1Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, 2Faculdades Pequeno Príncipe, 3INCT-INOVAMED, 4Centro de Inovações e Ensaios Pré-clínicos-CIEnP
A Febre do Nilo Ocidental é uma doença causada por um arbovírus transmitido pela picada de mosquitos do gênero Culex, o pernilongo. Outras formas mais raras de transmissão já foram relatadas e incluem transfusão sanguínea, transplante de órgãos, aleitamento materno e transmissão transplacentária. A infecção é mais comum na África, Europa, Oriente Médio, América do Norte e Ásia Ocidental. Seu ciclo natural envolve mosquitos e aves silvestres, podendo causar doença além da espécie humana, em equinos, primatas não-humanos e outros mamíferos. Estima-se que 20% dos indivíduos infectados pelo vírus da Febre do Nilo Ocidental desenvolvem sintomas, na maioria das vezes leves. Entretanto, um em cada 150 indivíduos infectados desenvolve doença neurológica severa (meningite, encefalite ou paralisia flácida aguda), podendo evoluir ao óbito em cerca de 10% dos casos. Em 2023, foram reportados centenas de casos na Europa e, nos Estados Unidos da América, mais de 2.500 indivíduos foram infectados pelo vírus no mesmo ano. Recentemente, o Dr. Anthony Fauci – renomado pesquisador da área da imunologia nos Estados Unidos, fez um importante alerta sobre a Febre do Nilo Ocidental (publicado no New York Times em Outubro de 2024). Infectado pelo vírus em sua vizinhança, provavelmente no quintal de casa, ele apresentou sintomas severos da doença incluindo febre alta e delirante, acompanhada de problemas motores e cognitivos que persistiram por semanas após início dos sintomas, uma experiência que ele descreveu como aterrorizante. O mesmo ressalta a importância e necessidade de investimentos para o desenvolvimento de terapias antivirais e vacinas contra o vírus.
Existem casos de Febre do Nilo Ocidental no Brasil? No país, o vírus foi detectado pela primeira vez na região do Pantanal em 2009, e mais recentemente, em animais doentes encontrados em Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí e São Paulo. O primeiro caso de infecção no homem foi anunciado em 2014 no Piauí, com o paciente apresentado encefalite e paralisia flácida. Cerca de 13 casos graves da doença foram confirmados nos últimos anos, todos localizados nos Estados do Piauí e Tocantins.
Quais os sintomas da doença? Oitenta por cento dos indivíduos infectados são assintomáticos. Naqueles em que a doença se manifesta, a forma leve da doença é a mais comum e caracteriza-se por sintomas inespecíficos como febre, mal-estar, anorexia, náusea, vômito, dor nos olhos, dor de cabeça, dor muscular, exantema máculo-papular, e linfoadenopatia. Em pacientes com doença severa, a encefalite é o quadro mais comum entre as manifestações neurológicas observadas. Fraqueza, sintomas gastrointestinais, alterações cognitivas, fraqueza muscular severa, paralisia flácida, ataxia, sinais extrapiramidais, anormalidades dos nervos cranianos, mielite, neurite óptica, polirradiculoneurite e convulsões podem estar presentes. A doença pode evoluir para coma e óbito em cerca de 10% dos pacientes com manifestações neurológicas.
Como saber se fui infectado? O diagnóstico de pacientes com suspeita de Febre do Nilo Ocidental é mais comumente feito pela detecção de anticorpos IgM produzidos na fase aguda (à partir do 5º dia após o início dos sintomas) da infecção contra o vírus do Nilo Ocidental em soro ou em líquido cefalorraquidiano. É importante ressaltar que pacientes recentemente vacinados (contra febre amarela, por exemplo) ou infectados com outro Flavivírus (Febre Amarela, Dengue, Zika, dentre outros) podem apresentar resultado falso-positivo para a Febre do Nilo Ocidental, o que conhecemos como reação cruzada. Assim, exames de detecção do vírus à partir do genoma viral também podem ser utilizados.
É possível tratar ou controlar a doença? Até o momento, não existem terapias nem vacinas direcionadas ao manejo clínico da Febre do Nilo Ocidental. Isso se deve em parte, à falta de investimentos no desenvolvimento de tais estratégias, e de estudos multicêntricos amplos com populações de diferentes regiões geográficas afetadas pelo vírus. Outros fatores incluem a grande variação no número de casos anuais, o que limita os ensaios clínicos. Assim, políticas de controle do mosquito transmissor do vírus e monitoramento de reservatórios naturais são essenciais.
Referências:
Centre for Disease Control – CDC. 2024. West Nile Virus: Historic Data (1999-2023). Acessado em 24 de outubro de 2024. https://www.cdc.gov/west-nile-virus/data-maps/historic-data.html
European Centre for Disease Prevention and Control – ECDC. 2024. Epidemiological update: West Nile virus transmission season in Europe, 2023. Acessado em 24 de outubro de 2024. https://www.ecdc.europa.eu/en/news-events/epidemiological-update-west-nile-virus-transmission-season-europe-2023-0
Fauci, A. 2024. Anthony Fauci: A Mosquito in My Backyard Made Me the Sickest I’ve Ever Been. Opinion Guest Essay, New York Times, acessado em 24 de outubro de 2024. https://www.nytimes.com/2024/10/07/opinion/fauci-west-nile-virus.html
Menezes, M. 2021. Vírus do Nilo Ocidental é detectado em Minas Gerais. Ciência e Saúde pela Vida, FIOCRUZ. Acessado em 24 de outubro de 2024. https://portal.fiocruz.br/noticia/virus-do-nilo-ocidental-e-detectado-em-minas-gerais
Ministério da Saúde. Febre do Nilo Ocidental. Acessado em 24 de outubro de 2024. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/febre-do-nilo-ocidental
Nishioka, S.A. 2024. Casos de encefalite pelo vírus do Nilo Ocidental já foram observados em humanos e animais no Brasil: qual é a dimensão do problema? Atualidades sobre Arboviroses, UNASUS. Acessado em 24 de outubro de 2024. https://www.unasus.gov.br/especial/arboviroses/markdown/91
World Health Organization – WHO. 2017. West Nile Virus. Acessado em 24 de outubro de 2024. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/west-nile-virus